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Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Torna Baco, dizendo: "Não conheces
O grã legislador que a teus passados
Tem mostrado o preceito a que obedeces,
Sem o qual fôreis muitos batizados?
Eu por ti, rudo, velo; e tu adormeces!
Pois saberás que aqueles, que chegados
De novo são, serão muito grande dano
Da lei que eu dei ao néscio povo humano. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | "Enquanto é fraca a força desta gente,
Ordena como em tudo se resista,
Porque, quando o Sol sai, facilmente
Se pode nele pôr a aguda vista;
Porém, depois que sobe claro e ardente,
Se agudeza dos olhos o conquista,
Tão cega fica, quanto ficareis,
Se raízes criar lhe não tolheis." | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Isto dito, ele e o sono se despede.
Tremendo fica o atónito Agareno:
Salta da cama, lume ao servos pede,
Lavrando nele o fervido veneno.
Tanto que a nova luz que ao Sol precede
Mostrara rosto angélico e sereno,
Convoca os principais da torpe seita,
Aos quais do que sonhou dá conta estreita. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Diversos pareceres e contrários
Ali se dão, segundo o que entendiam;
Astutas traições, enganos vários,
Perfídias inventavam e teciam.
Mas, deixando conselhos temerários,
Destruição da gente pretendiam,
Por manhas mais subtis e ardis melhores,
Com peitas adquirindo os regedores; | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Com peitas, ouro, e dádivas secretas
Conciliam da terra os principais,
E com razões notáveis e discretas
Mostram ser perdição dos naturais,
Dizendo que são gentes inquietas,
Que, os mares discorrendo ocidentais,
Vivem só de piráticas rapinas,
Sem Rei, sem leis humanas ou divinas | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Ó quanto deve o Rei que bem governa,
De olhar que os conselheiros, ou privados,
De consciência e de virtude interna
E de sincero amor sejam dotados!
Porque, como este posto na suprema
Cadeira, pode mal dos apartados
Negócios ter notícia mais inteira,
Do que lhe der a língua conselheira. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Nem tão pouco direi que tome tanto
Em grosso a consciência limpa e certa,
Que se enleve num pobre e humilde manto,
Onde ambição acaso ande encoberta.
E quando um bom em tudo é justo e santo,
Em negócios do mundo pouco acerta,
Que mal com eles poderá ter conta
A quieta inocência, em só Deus pronta. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Mas aqueles avaros Catuais,
Que o Gentílico povo governavam,
Induzidos das gentes infernais,
O Português despacho dilatavam.
Mas o Gama, que não pretende mais,
De tudo quanto os Mouros ordenavam,
Que levar a seu Rei um sinal certo
Do mundo, que deixava descoberto. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Nisto trabalha só; que bem sabia
Que depois que levasse esta certeza,
Armas, o naus, e gente mandaria
Manuel, que exercita a suma alteza,
Com que a seu jugo e lei someteria
Das terras e do mar a redondeza;
Que ele não era mais que um diligente
Descobridor das terras do Oriente. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Falar ao Rei gentio determina,
Por que com seu despacho se tornasse,
Que já sentia em tudo da malina
Gente impedir-se quanto desejasse.
O Rei, que da notícia falsa e indina
Não era de espantar se se espantasse,
Que tão crédulo era em seus agouros,
E mais sendo afirmados pelos Mouros, | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Este temor lhe esfria o baixo peito.
Por outra parte a força da cobiça,
A quem por natureza está sujeito,
Um desejo imortal lhe acende e atiça:
Que bem vê que grandíssimo proveito
Fará, se com verdade e com justiça
O contrato fizer por longos anos,
Que lhe comete o Rei dos Lusitanos. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Sobre isto, nos conselhos que tomava,
Achava muito contrários pareceres;
Que naqueles com quem se aconselhava
Executa o dinheiro seus poderes.
O grande Capitão chamar mandava,
A quem chegado disse:--"Se quiseres
Confessar-me a verdade limpa e nua,
Perdão alcançarás da culpa tua. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Fala do Samorim ao Gama
"Eu sou bem informado que a embaixada
Que de teu Rei me deste, que é fingida;
Porque nem tu tens Rei, nem pátria amada,
Mas vagabundo vás passando a vida;
Que quem da Hespéria última alongada,
Rei ou senhor de insânia desmedida,
Há de vir cometer com naus e frotas
Tão incertas viagens e remotas? | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | "E se de grandes Reinos poderosos
O teu Rei tem a régia majestade,
Que presentes me trazes valerosos,
Sinais de tua incógnita verdade?
Com peças e dons altos, sumptuosos,
Se lia dos Reis altos a amizade;
Que sinal nem penhor não é bastante
As palavras dum vago navegante. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | "Se porventura vindes desterrados,
Como já foram homens de alta sorte,
Em meu Reino sereis agasalhados,
Que toda a terra é pátria para o forte;
Ou se piratas sois ao mar usados,
Dizei-mo sem temor de infâmia ou morte,
Que por se sustentar em toda idade,
Tudo faz a vital necessidade." | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Isto assim dito, o Gama, que já tinha
Suspeitas das insídias que ordenava
O Mallomético ódio, donde vinha
Aquilo que tão mal o Rei cuidava,
Com uma alta confiança, que convinha,
Com que seguro crédito alcançava,
Que Vénus Acidália lhe influía,
Tais palavras do sábio peito abria: | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | "Se os antigos delitos, que a malícia
Humana cometeu na prisca idade,
Não causaram que o vaso da niquícia,
Açoute tão cruel da Cristandade,
Viera pôr perpétua inimicícia
Na geração de Adão, coa falsidade,
Ó poderoso Rei da torpe seita,
Não conceberas tu tão má suspeita. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | "Mas porque nenhum grande bem se alcança
Sem grandes opressões, e em todo o feito
Segue o temor os passos da esperança,
Que em suor vive sempre de seu peito,
Me mostras tu tão pouca confiança
Desta minha verdade, sem respeito
Das razões em contrário que acharias
Se não cresses a quem não crer devias. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | "Porque, se eu de rapinas só vivesse,
Undívago, ou da pátria desterrado,
Como crês que tão longe me viesse
Buscar assento incógnito e apartado?
Por que esperanças, ou por que interesse
Viria experimentando o mar irado,
Os Antarcticos frios, e os ardores
Que sofrem do Carneiro os moradores? | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | "Se com grandes presentes de alta estima
O crédito me pedes do que digo,
Eu não vim mais que a achar o estranho clima
Onde a natura pôs teu Reino antigo.
Mas, se a Fortuna tanto me sublima
Que eu torne à minha pátria e Reino amigo,
Então verás o dom soberbo e rico,
Com que minha tornada certifico. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | "Se te parece inopinado feito,
Que Rei da última Hespéria a ti me mande,
O coração sublime, o régio peito,
Nenhum caso possível tem por grande.
Bem parece que o nobre e grã conceito
Do Lusitano espírito demande
Maior crédito, e fé de mais alteza,
Que creia dele tanta fortaleza. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | "Sabe que há muitos anos que os antigos
Reis nossos firmemente propuseram
De vencer os trabalhos e perigos,
Que sempre às grandes coisas se opuseram;
E, descobrindo os mares inimigos
Do quieto descanso, pretenderam
De saber que fim tinham, e onde estavam
As derradeiras praias que lavavam. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | "Conceito digno foi do ramo claro
Do venturoso Rei, que arou primeiro
O mar, por ir deitar do ninho caro
O morador de Abila derradeiro.
Este, por sua indústria e engenho raro,
Num madeiro ajuntando outro madeiro,
Descobrir pôde a parte, que faz clara
De Argos, da Hidra a luz, da Lebre e da Ara. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | "Crescendo com os sucessos bons primeiros
No peito as ousadias, descobriram
Pouco e pouco caminhos estrangeiros,
Que uns, sucedendo aos outros, prosseguiram.
De África os moradores derradeiros
Austrais, que nunca as sete flamas viram,
Foram vistos de nós, atrás deixando
Quantos estão os Trópicos queimando. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | "Assim com firme peito, e com tamanho
Propósito, vencemos a Fortuna,
Até que nós no teu terreno estranho
Viemos pôr a última coluna.
Rompendo a força do líquido estanho,
Da tempestade horrífica e importuna,
A ti chegamos, de quem só queremos
Sinal, que ao nosso Rei de ti levemos. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | "Esta é a verdade, Rei; que não faria
Por tão incerto bem, tão fraco prémio,
Qual, não sendo isto assim, esperar podia,
Tão longo, tão fingido e vão proêmio;
Mas antes descansar me deixaria
No nunca descansado e fero grêmio
Da madre Tethys, qual pirata inico,
Dos trabalhos alheios feito rico. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | "Assim que, ó Rei, se minha grã verdade
Tens por qual é, sincera e não dobrada,
Ajunta-me ao despacho brevidade,
Não me impeças o gosto da tornada.
E, se ainda te parece falsidade,
Cuida bem na razão que está provada,
Que com claro juízo pode ver-se,
Que fácil é a verdade de entender-se." | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | A tento estava o Rei na segurança
Com que provava o Gama o que dizia;
Concebe dele certa confiança,
Crédito firme em quanto proferia.
Pondera das palavras a abastança,
Julga na autoridade grão valia,
Começa de julgar por enganados
Os Catuais corruptos, mal julgados. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Juntamente a cobiça do proveito,
Que espera do contrato Lusitano,
O faz obedecer e ter respeito
Com o Capitão, e não com o Mauro engano.
Enfim ao Gama manda que direito
As naus se vá, e, seguro de algum dano,
Possa a terra mandar qualquer fazenda,
Que pela especiaria troque e venda. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Que mande da fazenda, enfim, lhe manda,
Que nos Reinos Gangéticos faleça;
Se alguma traz idónea lá da banda
Donde a terra se acaba e o mar começa.
Já da real presença veneranda
Se parte o Capitão, para onde peça
Ao Catual, que dele tinha cargo,
Embarcação, que a sua está de largo. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Embarcação que o leve às naus lhe pede;
Mas o mau Regedor, que novos laços
Lhe maquinava, nada lhe concede,
Interpondo tardanças e embaraços.
Com ele parte ao cais, por que o arrede
Longe quanto puder dos régios paços,
Onde, sem que seu Rei tenha notícia,
Faça o que lhe ensinar sua malícia. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Lá bem longe lhe diz que lhe daria
Embarcação bastante em que partisse,
Ou que para a luz crástina do dia
Futuro sua partida diferisse.
Já com tantas tardanças entendia
O Gama, que o Gentio consentisse
Na má tenção dos Mouros, torpe e fera,
O que dele atéli não entendera. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Era este Catual um dos que estavam
Corruptos pela Maumetana gente,
O principal por quem se governavam
As cidades do Samorim potente.
Dele somente os Mouros esperavam
Efeito a seus enganos torpemente.
Ele, que no conceito vil conspira,
De suas esperanças não delira. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | O Gama com instância lhe requere
Que o mande pôr nas naus, e não lhe vai;
E que assim lhe mandara, lhe refere,
O nobre sucessor de Perimal.
Por que razão lhe impede e lhe difere
A fazenda trazer de Portugal?
Pois aquilo que os Reis já têm mandado
Não pode ser por outrem derrogado. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Pouco obedece o Catual corrupto
A tais palavras; antes revolvendo
Na fantasia algum subtil e astuto
Engano diabólico e estupendo,
Ou como banhar possa o ferro bruto
No sangue avorrecido, estava vendo;
Ou como as naus em fogo lhe abrasasse,
Por que nenhuma à pátria mais tornasse. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Que nenhum torne à pátria só pretende
O conselho infernal dos Maumetanos,
Por que não saiba nunca onde se estende
A terra Eoa o Rei dos Lusitanos.
Não parte o Gama enfim, que lho defende
O Regedor dos bárbaros profanos;
Nem sem licença sua ir-se podia,
Que as almadias todas lhe tolhia. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Aos brados o razões do Capitão
Responde o Idolatra que mandasse--
Chegar à terra as naus, que longo estão,
Por que melhor dali fosse e tornasse.
"Sinal é de inimigo e de ladrão,
Que lá tão longe a frota se alargasse,
Lhe diz, porque do certo e fido amigo
É não temer do seu nenhum perigo." | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Nestas palavras o discreto Gama
Enxerga bem que as naus deseja perto
O Catual, por que com f erro e flama,
Lhas assalte, por ódio descoberto.
Em vários pensamentos se derrama;
Fantasiando está remédio certo,
Que desse a quanto mal se lhe ordenava;
Tudo temia, tudo enfim cuidava. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Qual o reflexo lume do polido
Espelho de aço, ou de cristal formoso,
Que, do raio solar sendo ferido,
Vai ferir noutra parte luminoso,
E, sendo da ociosa mão movido
Pela casa do moço curioso,
Anda pelas paredes é telhado
Trêmulo, aqui e ali, e dessossegado: | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Tal o vago juízo flutuava
Do Gama preso, quando lhe lembrara
Coelho, se por caso o esperava
Na praia com os batéis, como ordenara.
Logo secretamente lhe mandava,
"Que se tornasse à frota, que deixara;
Não fosse salteado dos enganos,
Que esperava dos feros Maumetanos." | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Tal há de ser quem quer, com o dom de Marte,
Imitar os ilustres e igualá-los:
Voar com o pensamento a toda parte,
Adivinhar perigos, e evitá-los:
Com militar engenho e subtil arte
Entender os inimigos, e enganá-los;
Crer tudo, enfim, que nunca louvarei
O Capitão que diga: "Não cuidei". | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Insiste o Malabar em tê-lo preso,
Se não manda chegar a terra a armada;
Ele constante, e de ira nobre aceso,
Os ameaços seus não teme nada;
Que antes quer sobre si tomar o peso
De quanto mal a vil malícia ousada
Lhe andar armando, que pôr em ventura
A frota de seu Rei, que tem segura. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Aquela noite esteve ali detido,
E parte do outro dia, quando ordena
De se tornar ao Rei; mas impedido
Foi da guarda que tinha, não pequena.
Comete-lhe o Gentio outro partido,
Temendo de seu Rei castigo ou pena,
Se sabe esta malícia, a qual asinha
Saberá, se mais tempo ali o detinha. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Diz-lhe "que mande vir toda a fazenda
Vendível, que trazia, para a terra,
Para que de vagar se troque e venda:
Que quem não quer comércio, busca guerra.
Posto que os maus propósitos entenda
O Gama, que o danado peito encerra,
Consente, porque sabe por verdade,
Que compra com a fazenda a liberdade. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Concertam-se que o negro mande dar
Embarcações idóneas com que venha;
Que os seus batéis não quer aventurar
Onde lhos tome o inimigo, ou lhos detenha.
Partem as almadias a buscar
Mercadoria Hispana, que convenha.
Escreve a seu irmão que lhe mandasse
A fazenda com que se resgatasse. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Vem a fazenda a terra, aonde logo
A agasalhou o infame Catual;
Com ela ficam Álvaro e Diogo,
Que a pudessem vender pelo que val.
Se mais que obrigação, que mando e rogo
No peito vil o prémio pode e val,
Bem o mostra o Gentio a quem o entenda,
Pois o Gama soltou pela fazenda. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Por ela o solta, crendo que ali tinha
Penhor bastante, donde recebesse
Interesse maior do que lhe vinha,
Se o Capitão mais tempo detivesse.
Ele, vendo que já lhe não convinha
Tornar a terra, por que não pudesse
Ser mais retido, sendo às naus chegado
Nelas estar se deixa descansado. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Nas naus estar se deixa vagaroso,
Até ver o que o tempo lhe descobre:
Que não se fia já do cobiçoso
Regedor corrompido e pouco nobre.
Veja agora o juízo curioso
Quanto no rico, assim como no pobre,
Pode o vil interesse e sede inimiga
Do dinheiro, que a tudo nos obriga. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | A Polidoro mata o Ptei Treício,
Só por ficar senhor do grão tesouro;
Entra, pelo fortíssimo edifício,
Com a filha de Acriso a chuva d'ouro;
Pode tanto em Tarpeia avaro vício,
Que, a troco do metal luzente e louro,
Entrega aos inimigos a alta torre,
Do qual quase afogada em pago morre. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Este rende munidas fortalezas,
Faz tredores e falsos os amigos:
Este a mais nobres faz fazer vilezas,
E entrega Capitães aos inimigos;
Este corrompe virginais purezas,
Sem temer de honra ou fama alguns perigos:
Este deprava às vezes as ciências,
Os juízos cegando e as consciências; | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Este interpreta mais que sutilmente.
Os textos; este faz e desfaz leis;
Este causa os perjúrios entre a gente,
E mil vezes tiranos torna os Reis.
Até os que só a Deus Onipotente
Se dedicam, mil vezes ouvireis
Que corrompe este encantador, e ilude;
Mas não sem cor, contudo, de virtude. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Tiveram longamente na cidade,
Sem vender-se, a fazenda os dois feitores
Que os infiéis, por manha e falsidade,
Fazem que não lha comprem mercadores;
Que todo seu propósito e vontade
Era deter ali os descobridores
Da Índia tanto tempo, que viessem
De Meca as naus, que as suas desfizessem. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Lá no seio Eritreu, onde fundada
Arsínoe foi do Egípcio Ptolomeu,
Do nome da irmã sua assim chamada,
Que depois em Suez se converteu,
Não longe o porto jaz da nomeada
Cidade Meca, que se engrandeceu
Com a superstição falsa e profana
Da religiosa água Maumetana. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Gidá se chama o porto, aonde o trato
De todo o Roxo mar mais florescia,
De que tinha proveito grande e grato
O Soldão que esse Reino possuía.
Daqui aos Malabares, por contrato
Dos infiéis, formosa companhia
De grandes naus, pelo Índico Oceano,
Especiaria vem buscar cada ano. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Por estas naus os Mouros esperavam,
Que, como fossem grandes e possantes,
Aquelas, que o comércio lhe tomavam,
Com flamas abrasassem crepitantes.
Neste socorro tanto confiavam,
Que já não querem mais dos navegantes,
Senão que tanto tempo ali tardassem,
Que da famosa Meca as naus chegassem. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Mas o Governador dos céus e gentes,
Que, para quanto tem determinado,
De longe os meios dá convenientes,
Por onde vem a ef eito o fim fadado,
Influiu piedosos acidentes
De afeição em Monçaide, que guardado
Estava para dar ao Gama aviso,
E merecer por isso o Paraíso. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Este, de quem se os Mouros não guardavam,
Por ser Mouro como eles, antes era
Participante em quanto maquinavam,
A tenção lhe descobre torpe e fera.
Muitas vezes as naus que longe estavam
Visita, o com piedade considera
O dano, sem razão, que se lhe ordena
Pela maligna gente Sarracena. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Informa o cauto Gama das armadas
Que de Arábica Meca vêm cada ano,
Que agora são dos seus tão desejadas,
Para ser instrumento deste dano.
Diz-lhe que vêm de gente carregadas,
E dos trovões horrendos de Vulcano,
E que pode ser delas oprimido,
Segundo estava mal apercebido. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | O Gama, que também considerava
O tempo, que para a partida o chama,
E que despacho já não esperava
Melhor do Rei, que os Maumetanos ama,
Aos feitores, que em terra estão, mandava
Que se tornem às naus; e por que a fama
Desta súbita vinda os não impeça,
Lhe manda que a fizessem escondida. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Porém não tardou muito que, voando,
Um rumor não soasse com verdade:
Que foram presos os feitores, quando
Foram sentidos vir-se da cidade.
Esta fama as orelhas penetrando
Do sábio Capitão, com brevidade
Faz represaria nuns, que às naus vieram
A vender a pedraria que trouxeram. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Eram estes antigos mercadores
Ricos em Calecu, e conhecidos;
Da falta deles, logo entre os melhores
Sentido foi que estão no mar retidos.
Mas já nas naus os bons trabalhadores
Volvem o cabrestante, e repartidos
Pelo trabalho, uns puxam pela amarra,
Outros quebram com o peito duro a barra; | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Outros pendem da verga, e já desatam
A vela, que com grita se soltava,
Quando com maior grita ao Rei relatam
A pressa com que a armada se levava.
As mulheres e filhos que se matam
Daqueles que vão presos, onde estava
O Samorim, se queixam que perdidos
Uns têm os pais, as outras os maridos. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Manda logo os feitores Lusitanos
Com toda sua fazenda livremente
Apesar dos inimigos Maumetanos,
Por que lhe torne a sua presa gente.
Desculpas manda o Rei de seus enganos;
Recebe o Capitão de melhor mente
Os presos que as desculpas, e tornando
Alguns negros, se parte as velas dando. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Parte-se costa abaixo, porque entende
Que em vão com o Rei gentio trabalhava
Em querer dele paz, a qual pretende
Por firmar o comércio que tratava.
Mas como aquela terra, que se estende
Pela Aurora, sabida já deixava,
Com estas novas torna à pátria cara,
Certos sinais levando do que achara. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Leva alguns Malabares, que tomou
Por força, dos que o Samorim mandara
Quando os presos feitores lhe tornou;
Leva pimenta ardente, que comprara;
A seca flor de Banda não ficou,
A noz, e o negro cravo, que faz clara
A nova ilha Maluco, com a canela,
Com que Ceilão é rica, ilustre e bela. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Isto tudo lhe houvera a diligência
De Monçaide fiel, que também leva,
Que, inspirado de angélica influência,
Quer no livro de Cristo que se escreva.
Ó ditoso Africano, que a clemência
Divina assim tirou de escura treva,
E tão longe da pátria achou maneira
Para subir à pátria verdadeira! | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Apartadas assim da ardente costa
As venturosas naus, levando a proa
Para onde a Natureza tinha posta
A meta Austrina da esperança boa,
Levando alegres novas e resposta
Da parte Oriental para Lisboa,
Outra vez cometendo os duros medos
Do mar incerto, tímidos e ledos; | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | O prazer de chegar à pátria cara,
A seus penates caros e parentes,
Para contar a peregrina e rara
Navegação, os vários céus e gentes;
Vir a lograr o prémio, que ganhara
Por tão longos trabalhos e acidentes,
Cada um tem por gosto tão perfeito,
Que o coração para ele é vaso estreito. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Porém a deusa Cípria, que ordenada
Era para favor dos Lusitanos
Do Padre eterno, e por bom génio dada,
Que sempre os guia já de longos anos;
A glória por trabalhos alcançada,
Satisfação de bem sofridos danos,
Lhe andava já ordenando, e pretendia
Dar-lhe nos mares tristes alegria. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Depois de ter um pouco revolvido
Na mente o largo mar que navegaram,
Os trabalhos, que pelo Deus nascido
Nas Anfióneas Tebas se causaram;
Já trazia de longe no sentido,
Para prémio de quanto mal passaram,
Buscar-lhe algum deleite, algum descanso
No Reino de cristal líquido e manso; | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Algum repouso, enfim, com que pudesse
Refocilar a lassa humanidade
Dos navegantes seus, como interesse
Do trabalho que encurta a breve idade.
Parece-lhe razão que conta desse
A seu filho, por cuja potestade
Os Deuses faz descer ao vil terreno
E os humanos subir ao céu sereno. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Isto bem revolvido, determina
De ter-lhe aparelhada, lá no meio
Das águas, alguma ínsula divina,
Ornada de esmaltado e verde arreio;
Que muitas tem no reino, que confina
Da mãe primeira com o terreno seio,
Afora as que possui soberanas
Para dentro das portas Herculanas. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Ali quer que as aquáticas donzelas
Esperem os fortíssimos barões,
Todas as que têm título de belas,
Glória dos olhos, dor dos corações,
Com danças e coreias, porque nelas
Influirá secretas afeições,
Para com mais vontade trabalharem
De contentar, a quem se afeiçoaram. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Tal manha buscou já, para que aquele
Que de Anquises pariu, bem recebido
Fosse no campo que a bovina pele
Tomou de espaço, por subtil partido.
Seu filho vai buscar, porque só nele
Tem todo seu poder, fero Cupido,
Que assim como naquela empresa antiga
Ajudou já, nestoutra a ajude e siga. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | No carro ajunta as aves que na vida
Vão da morte as exéquias celebrando,
E aquelas em que já foi convertida
Perístera, as boninas apanhando.
Em derredor da Deusa já partida,
No ar lascivos beijos se vão dando.
Ela, por onde passa, o ar e o vento
Sereno faz, com brando movimento. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Já sobre os Idálios montes pende,
Onde o filho frecheiro estava então
Ajuntando outros muitos, que pretende
Fazer uma famosa expedição
Contra o mundo rebelde, por que emende
Erros grandes, que há dias nele estão,
Amando coisas que nos foram dadas,
Não para ser amadas, mas usadas. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Via Acteon na caça tão austero,
De cego na alegria bruta, insana,
Que por seguir um feio animal fero,
Foge da gente e bela forma humana;
E por castigo quer, doce e severo,
Mostrar-lhe a formosura de Diana;
E guarde-se não seja ainda comido
Desses cães que agora ama, e consumido. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | E vê do mundo todo os principais,
Que nenhum no bem público imagina;
Vê neles que não têm amor a mais
Que a si somente, e a quem Filáucia ensina.
Vê que esses que frequentam os reais
Paços, por verdadeira e sã doutrina
Vendem adulação, que mal consente
Mondar-se o novo trigo florescente. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Vê que aqueles que devem à pobreza
Amor divino e ao povo caridade,
Amam somente mandos e riqueza,
Simulando justiça e integridade.
Da feia tirania e de aspereza
Fazem direito e vã severidade:
Leis em favor do Rei se estabelecem,
As em favor do povo só perecem. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Vê, enfim, que ninguém ama o que deve,
Senão o que somente mal deseja;
Não quer que tanto tempo se releve
O castigo, que duro e justo seja.
Seus ministros ajunta, por que leve
Exércitos conformes à peleja,
Que espera ter com a mal regida gente,
Que lhe não for agora obediente. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Muitos destes meninos voadores
Estão em várias obras trabalhando:
Uns amolando ferros passadores,
Outros ásteas de setas delgaçando;
Trabalhando, cantando estão de amores,
Vários casos em verso modulando,
Melodia sonora e concertada,
Suave a letra, angélica a soada. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Nas frágoas imortais, onde forjavam
Para as setas as pontas penetrantes,
Por lenha corações ardendo estavam,
Vivas entranhas ainda palpitantes.
As águas onde os ferros temperavam,
Lágrimas são de míseros amantes;
A viva f lama, o nunca morto lume,
Desejo é só que queima, e não consume. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Alguns exercitando a mão andavam
Nos duros corações da plebe rude;
Crebros suspiros pelo ir soavam
Dos que feridos vão da seta aguda.
Formosas Ninfas são as que curavam
As chagas recebidas cuja ajuda
Não somente dá vida aos mal feridos,
Mas põe em vida os ainda não nascidos. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Formosas são algumas e outras feias,
Segundo a qualidade for das chagas;
Que o veneno espalhado pelas veias
Curam-no às vezes ásperas triagas.
Alguns ficam ligados em cadeias,
Por palavras subtis de sábias magas:
Isto acontece às vezes, quando as setas
Acertam de levar ervas secretas. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Destes tiros assim desordenados,
Que estes moços mal destros vão tirando,
Nascem amores mil desconcertados
Entre o povo ferido miserando;
E tamboril nos heróis de altos estados
Exemplos mil se vêem de amor nefando,
Qual o das moças Bíbli e Cinireia,
Um mancebo de Assíria, um de Judeia. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | E vós, ó poderosos, por pastoras
Muitas vezes ferido o peito vedes;
E por baixos e rudos, vós, senhoras,
Também vos tomam nas Vulcâneas redes.
Uns esperando andais noturnas horas,
Outros subis telhados e paredes:
Mas eu creio que deste amor indino
É mais culpa a da mãe que a do menino. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Mas já no verde prado o carro leve
Punham os brancos cisnes mansamente,
E Dione, que as rosas entro a neve
No rosto traz, descia diligente.
O frecheiro, que contra o céu se atreve,
A recebê-la vem, ledo e contente;
Vêm todos os Cupidos servidores
Beijar a mão à Deusa dos amores. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Ela, por que não gaste o tempo em vão,
Nos braços tendo o filho, confiada
Lhe diz: "Amado filho, em cuja mão
Toda minha potência está fundada;
Filho, em quem minhas forças sempre estão;
Tu, que as armas Tifeias tens em nada,
A socorrer-me a tua potestade
Me triz especial necessidade. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | "Bem vês as Lusitânicas fadigas,
Que eu já de muito longe favoreço,
Porque das Parcas sei, minhas amigas,
Que me hão de venerar e ter em preço.
E, porque tanto imitam as antigas
Obras de meus Romanos, me ofereço
A lhe dar tanta ajuda, em quanto posso,
A quanto se estender o poder nosso. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | "E porque das insídias do odioso
Baco foram na Índia molestados,
E das injúrias sós do mar undoso
Puderam mais ser mortos que cansados,
No mesmo mar, que sempre temeroso
Lhe foi, quero que sejam repousados,
Tomando aquele prémio e doce glória
Do trabalho, que faz clara a memória. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | "E para isso queria que, feridas
As filhas de Nereu, no ponto fundo,
De amor dos Lusitanos incendidas,
Que vêm de descobrir o novo mundo,
Todas numa ilha juntas e subidas,
Ilha, que nas entranhas do profundo
Oceano terei aparelhada,
De dons de Flora e Zéfiro adornada; | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | "Ali, com mil refrescos e manjares,
Com vinhos odoríferos e rosas,
Em cristalinos paços singulares
Formosos leitos, e elas mais formosas;
Enfim, com mil deleites não vulgares,
Os esperem as Ninfas amorosas,
De amor feridas, para lhes entregarem
Quanto delas os olhos cobiçarem. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | "Quero que haja no reino Netunino,
Onde eu nasci, progénie forte e bela,
E tome exemplo o mundo vil, malino,
Que contra tua potência se rebela,
Por que entendam que muro adamantino,
Nem triste hipocrisia val contra ela:
Mal haverá na terra quem se guarde,
Se teu fogo imortal nas águas arde." | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Assim Vénus propôs, e o filho inieo,
Para lhe obedecer, já se apercebe:
Manda trazer o arco ebúrneo rico,
Onde as setas de ponta de ouro embebe.
Com gesto ledo a Cípria, e impudico,
Dentro no carro o filho seu recebe;
A rédea larga às aves, cujo canto
A Factôntea morte chorou tanto. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Mas diz Cupido, que era necessária
Uma famosa e célebre terceira,
Que, posto que mil vezes lhe é contrária,
Outras muitas a tem por companheira:
A Deusa Giganteia, temerária,
Jactante, mentirosa, e verdadeira,
Que com cem olhos vê, e por onde voa,
O que vê, com mil bocas apregoa. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Vão-a buscar, e mandam adiante,
Que celebrando vá com tuba clara
Os louvores da gente navegante,
Mais do que nunca os d'outrem celebrara.
Já murmurando a Fama penetrante
Pelas fundas cavernas se espalhara:
Fala verdade, havida por verdade,
Que junto a Deusa traz Credulidade. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | O louvor grande, o rumor excelente
No coração dos Deuses, que indignados
Foram por Baco contra a ilustre gente,
Mudando, os fez um pouco afeiçoados.
O peito feminil, que levemente
Muda quaisquer propósitos tomados,
Já julga por mau zelo e por crueza
Desejar mal a tanta fortaleza. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Despede nisto o fero moço as setas
Uma após outra: geme o mar com os tiros;
Direitas pelas ondas inquietas
Algumas vão, e algumas fazem giros;
Caem as Ninfas, lançam das secretas
Entranhas ardentíssimos suspiros;
Cai qualquer, sem ver o vulto que ama:
Que tanto, como a vista, pode a fama. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Os cornos ajuntou da ebúrnea lua
Com força o moço indómito excessiva,
Que Tethys quer ferir mais que nenhuma,
Porque mais que nenhuma lhe era esquiva.
Já não fica na aljava seta alguma,
Nem nos equóreos campos Ninfa viva;
E se feridas ainda estão vivendo,
Será para sentir que vão morrendo. | |
Escreve uma estrofe ao estilo de Os Lusíadas | Dai lugar, altas e cerúleas ondas,
Que, vedes, Vénus traz a medicina,
Mostrando as brancas velas e redondas,
Que vêm por cima da água Netunina.
Para que tu recíproco respondas,
Ardente Amor, à flama feminina,
É, forçado que a pudicícia honesta
Faça quanto lhe Vénus amoesta. |